Petrobras: nova rotina de medo e tensão na estatal
Boatos de demissão e dúvidas sobre o futuro da empresa assombram funcionários da estatal
por Leticia Fernandes
RIO - Era óbvio que o ano não começara bem.
Mas o clima estava especialmente tenso na manhã daquela terça-feira
no edifício-sede da Petrobras.
A imprensa noticiava que Graça Foster finalmente deixaria a presidência da empresa.
Lá dentro, o silêncio se impunha entre as paredes da ousada
construção de concreto e aço inoxidável, erguida em 1974
e que, pela nobreza dos materiais usados, já àquela
época mostrava a intenção de transformar a Petrobras na maior petrolífera do mundo.
Aos funcionários, coube passar aquele 3 de fevereiro
na ponta da cadeira, atualizando o e-mail à espera de um comunicado oficial.
Havia um misto de medo e apreensão a cada clique no correio eletrônico.
Três dias depois, por volta de 18h, apitou novamente a caixa de mensagem:
a comunicação interna informava que Aldemir Bendine
seria o novo presidente da Petrobras.
“Quem?”, perguntaram uns aos outros, funcionários das áreas mais diversas.
Apelaram ao Google para mais informações sobre
o então presidente do Banco do Brasil.
Bastaram duas páginas se abrirem para que o ambiente ficasse mais pesado.
A 700 metros dali, no Centro Empresarial Senado,
um prédio de fachada espelhada na Lapa, inaugurado em 2013
e onde foram instaladas, entre outras áreas, a de Gás e Energia
(da qual Graça Foster já foi diretora) funcionários estranharam
pequenas mudanças ao voltarem do recesso de fim de ano, na manhã de 2 de janeiro.
De uma hora para a outra, o prédio passou
a não dispor mais de uma máquina de café por andar,
o que restringiu o momento do cafezinho para alguns
dos dez mil funcionários que por lá transitam diariamente.
Nos banheiros, outro sinal de economia:
a troca do papel higiênico por uma marca de qualidade inferior —
detalhes que aumentaram o medo entre os funcionários.
— Agora, a gente tem medo de tudo.
As pessoas não falam mais ao telefone,
chamam para tomar um café.
Temos medo de receber e-mail, de represálias e de investigações
— disse uma funcionária terceirizada.
São os terceirizados os mais atingidos pelo mau desempenho da empresa.
Além de contratações praticamente congeladas,
há muita mão de obra sendo dispensada.
Empregados citaram a obra do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
(Comperj), em Itaboraí, onde já foram relatados inúmeros
casos de pagamento de propina a partidos políticos,
e a refinaria Premium, que seria construída no Maranhão —
e que foi cancelada pela Petrobras —
como os maiores exemplos de dispensa desses funcionários.
— A previsão é sair muita gente, é a pior de todas.
Com essa refinaria Premium que não vai mais ter,
estão desmobilizando todos os funcionários.
Tem gente que comprou casa perto, com previsão de ser
um bom investimento, mas o lugar desvalorizou muito.
Mil histórias tristes que a gente ouve.
Está todo mundo com a corda no pescoço — contou outra funcionária.
Para evitar uma reação negativa em cadeia,
e na tentativa de afastar boatos sobre demissões em massa,
há um esforço de áreas técnicas para explicar as denúncias
de corrupção na Operação Lava-Jato a seus subordinados.
Num dos setores, já houve duas reuniões nos últimos meses.
Os gerentes, segundo os participantes, procuram incentivar
a produtividade e tranquilizar os funcionários:
— Eles buscam acalmar as pessoas, mas, como ninguém sabe
o tamanho do rombo, não tem como reagir bem.
Falam que é um momento difícil, que a gente tem que se esforçar
ao máximo pela empresa, tentar não perder o amor pela Petrobras
porque ela vai além disso tudo.
Tentam motivar e não criar pânico de que vai haver demissão em massa.
Mas, em algumas áreas, já teve demissão: no Comperj,
um monte de trabalhador está saindo,
os consórcios estão parando as atividades —
completou essa funcionária.
BOATARIA SOBRE NOVAS PRISÕES
Há aqueles que fazem piada do atual momento da empresa.
No edifício-sede, construído pela Odebrecht, basta que um funcionário
de alto escalão se atrase para começar o burburinho de que ele foi preso.
A rotina de trabalho ficou mais acelerada nos últimos meses.
Desde a abertura da CPI mista da Petrobras no Congresso, ano passado, a empresa começou a pressionar as áreas competentes para que enviassem, em poucas horas, dados sobre contratos firmados entre a estatal e as construtoras envolvidas na Lava-Jato.
Começou uma corrida interna para descobrir os problemas
antes da imprensa e do Ministério Público.
Diante de tantas notícias negativas, surgiu um sentimento de revolta.
Funcionários se sentem injustiçados e dizem que são hostilizados
por trabalharem na Petrobras.
Na última quarta-feira, um grupo da área de comunicação
criou a campanha #soupetrobras, para valorizar o funcionário e a empresa.
Centenas de pessoas já publicaram fotos nas redes sociais usando a hashtag.
Os participantes frisam que não é um movimento institucional.
Mas o clima estava especialmente tenso na manhã daquela terça-feira
no edifício-sede da Petrobras.
A imprensa noticiava que Graça Foster finalmente deixaria a presidência da empresa.
Lá dentro, o silêncio se impunha entre as paredes da ousada
construção de concreto e aço inoxidável, erguida em 1974
e que, pela nobreza dos materiais usados, já àquela
época mostrava a intenção de transformar a Petrobras na maior petrolífera do mundo.
Aos funcionários, coube passar aquele 3 de fevereiro
na ponta da cadeira, atualizando o e-mail à espera de um comunicado oficial.
Havia um misto de medo e apreensão a cada clique no correio eletrônico.
Três dias depois, por volta de 18h, apitou novamente a caixa de mensagem:
a comunicação interna informava que Aldemir Bendine
seria o novo presidente da Petrobras.
“Quem?”, perguntaram uns aos outros, funcionários das áreas mais diversas.
Apelaram ao Google para mais informações sobre
o então presidente do Banco do Brasil.
Bastaram duas páginas se abrirem para que o ambiente ficasse mais pesado.
A 700 metros dali, no Centro Empresarial Senado,
um prédio de fachada espelhada na Lapa, inaugurado em 2013
e onde foram instaladas, entre outras áreas, a de Gás e Energia
(da qual Graça Foster já foi diretora) funcionários estranharam
pequenas mudanças ao voltarem do recesso de fim de ano, na manhã de 2 de janeiro.
De uma hora para a outra, o prédio passou
a não dispor mais de uma máquina de café por andar,
o que restringiu o momento do cafezinho para alguns
dos dez mil funcionários que por lá transitam diariamente.
Nos banheiros, outro sinal de economia:
a troca do papel higiênico por uma marca de qualidade inferior —
detalhes que aumentaram o medo entre os funcionários.
— Agora, a gente tem medo de tudo.
As pessoas não falam mais ao telefone,
chamam para tomar um café.
Temos medo de receber e-mail, de represálias e de investigações
— disse uma funcionária terceirizada.
São os terceirizados os mais atingidos pelo mau desempenho da empresa.
Além de contratações praticamente congeladas,
há muita mão de obra sendo dispensada.
Empregados citaram a obra do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
(Comperj), em Itaboraí, onde já foram relatados inúmeros
casos de pagamento de propina a partidos políticos,
e a refinaria Premium, que seria construída no Maranhão —
e que foi cancelada pela Petrobras —
como os maiores exemplos de dispensa desses funcionários.
— A previsão é sair muita gente, é a pior de todas.
Com essa refinaria Premium que não vai mais ter,
estão desmobilizando todos os funcionários.
Tem gente que comprou casa perto, com previsão de ser
um bom investimento, mas o lugar desvalorizou muito.
Mil histórias tristes que a gente ouve.
Está todo mundo com a corda no pescoço — contou outra funcionária.
Para evitar uma reação negativa em cadeia,
e na tentativa de afastar boatos sobre demissões em massa,
há um esforço de áreas técnicas para explicar as denúncias
de corrupção na Operação Lava-Jato a seus subordinados.
Num dos setores, já houve duas reuniões nos últimos meses.
Os gerentes, segundo os participantes, procuram incentivar
a produtividade e tranquilizar os funcionários:
— Eles buscam acalmar as pessoas, mas, como ninguém sabe
o tamanho do rombo, não tem como reagir bem.
Falam que é um momento difícil, que a gente tem que se esforçar
ao máximo pela empresa, tentar não perder o amor pela Petrobras
porque ela vai além disso tudo.
Tentam motivar e não criar pânico de que vai haver demissão em massa.
Mas, em algumas áreas, já teve demissão: no Comperj,
um monte de trabalhador está saindo,
os consórcios estão parando as atividades —
completou essa funcionária.
BOATARIA SOBRE NOVAS PRISÕES
Há aqueles que fazem piada do atual momento da empresa.
No edifício-sede, construído pela Odebrecht, basta que um funcionário
de alto escalão se atrase para começar o burburinho de que ele foi preso.
A rotina de trabalho ficou mais acelerada nos últimos meses.
Desde a abertura da CPI mista da Petrobras no Congresso, ano passado, a empresa começou a pressionar as áreas competentes para que enviassem, em poucas horas, dados sobre contratos firmados entre a estatal e as construtoras envolvidas na Lava-Jato.
Começou uma corrida interna para descobrir os problemas
antes da imprensa e do Ministério Público.
Diante de tantas notícias negativas, surgiu um sentimento de revolta.
Funcionários se sentem injustiçados e dizem que são hostilizados
por trabalharem na Petrobras.
Na última quarta-feira, um grupo da área de comunicação
criou a campanha #soupetrobras, para valorizar o funcionário e a empresa.
Centenas de pessoas já publicaram fotos nas redes sociais usando a hashtag.
Os participantes frisam que não é um movimento institucional.
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http://oglobo.globo.com/brasil/petrobras-nova-rotina-de-medo-tensao-na-estatal-15342808#ixzz3RpZfendk
© 1996 - 2015. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A.
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