FMI reduz projeções e aponta estagnação do Brasil em 2015
A investigação do esquema de corrupção na Petrobras
está
entre os motivos da forte revisão da projeção de crescimento
da
economia do Brasil em 2015 feita pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI),
de acordo com a equipe de economistas da instituição.
O ano será
novamente de estagnação, com expansão de apenas 0,3%,
um corte de 1,1
ponto percentual sobre o número de outubro,
revelou o relatório
trimestral Panorama da Economia Mundial,
divulgado na madrugada desta
terça-feira, na China.
Contribuíram para a nova estimativa os resultados decepcionantes
Contribuíram para a nova estimativa os resultados decepcionantes
do
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo semestre do ano
passado
e o novo ciclo de aperto dos juros pelo Banco Central (BC),
num
contexto de queda dos preços das commodities,
importantes motores da
atividade produtiva no Brasil,
e de ritmo morno da economia
internacional, afirmou
Gian Maria Milesi-Ferretti, vice-diretor do
Departamento de Pesquisa do FMI.
O número está em linha com o mercado —
O número está em linha com o mercado —
que pela pesquisa semanal Focus
do BC estima, em média, 0,38%.
Porém, é mais pessimista do que a
expectativa do governo, de 0,8%,
incluída na Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO).
Para 2016, a recuperação brasileira será modesta,
de expansão de 1,5%, 0,7 ponto inferior ao estimado há três meses.
— A estimativa para 2015 depende do que ocorreu especialmente
— A estimativa para 2015 depende do que ocorreu especialmente
na segunda
metade de 2014, e a atividade foi bastante fraca,
em especial o
investimento.
A incerteza (gerada pelas eleições presidenciais)
foi
resolvida, mas houve o impacto das investigações na Petrobras,
que
claramente afetaram confiança e acrescentaram incertezas,
por exemplo
relacionadas aos planos de investimento da empresa,
também impactada
pelos preços do petróleo.
E a política monetária foi apertada para lidar
com as pressões inflacionárias,
o que claramente freou a demanda
doméstica — explicou Milesi-Ferretti.
Tudo isso se desenvolveu em meio à desaceleração dos preços das commodities,
Tudo isso se desenvolveu em meio à desaceleração dos preços das commodities,
iniciada em 2011, que tem sido particularmente penosa para a
América Latina,
afirmou o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard.
Segundo ele,
este é o pano de fundo dos repetidos cortes de projeções
para as economias latinas,
Brasil incluído, nos últimos dois anos:
— Esse é um processo de aprendizado.
— Esse é um processo de aprendizado.
Nós estamos aprendendo que o
crescimento alto (da América Latina)
no começo dos anos 2000 não pode
ser sustentado.
Esse é o fator comum, mas cada país reage a essas quedas
(das commodities)
de modo diferente, alguns melhor do que outros.
É um
contexto que tem que se pensar sobre o Brasil.
Mas há fatores
específicos que explicam por que a estimativa para o Brasil é tão baixa.
NO BRICS, BRASIL SÓ ESTÁ MELHOR QUE RÚSSIA
A América Latina só não terá desempenho pior este ano do que a do bloco
NO BRICS, BRASIL SÓ ESTÁ MELHOR QUE RÚSSIA
A América Latina só não terá desempenho pior este ano do que a do bloco
de ex-repúblicas soviéticas, que, puxado pela retração econômica
projetada
para a Rússia em 2015 e 2016, registrará recessão este ano.
Na
comparação entre as nações que compõem o Brics
(grupo dos maiores
emergentes), o Brasil só não apresentará resultados
mais fracos do que
os russos em 2015 e 2016
(queda de 3% e 1%, respectivamente, devido às
crises externa e energética).
A China continua desacelerando, de forma ordenada,
A China continua desacelerando, de forma ordenada,
refletindo a
transição da economia dos investimentos para o consumo.
O ritmo desta
transformação está mais rápido do que estimava o FMI
e coloca a expansão
chinesa abaixo de 7% no biênio: 6,8% em 2015 e 6,3% em 2016.
A China
divulgou hoje que a alta de seu PIB em 2014 foi a mais lenta em 24 anos:
7,4%.
Já a Índia segue favorecida por reformas internas feitas nos últimos dois anos,
Já a Índia segue favorecida por reformas internas feitas nos últimos dois anos,
que potencializaram o crescimento indiano: 6,3% este ano e
6,5% no próximo.
O PIB da África do Sul deverá ter alta de 2,1% e 2,5%,
respectivamente.
Em média, espera-se que as nações emergentes registrem crescimento
Em média, espera-se que as nações emergentes registrem crescimento
de 4,3% em 2015 e 4,7% em 2016.
— A desaceleração da China reflete uma decisão bem-vinda
— A desaceleração da China reflete uma decisão bem-vinda
de reorientar a
economia, movendo-se do foco no mercado imobiliário
e no shadow banking
para o consumo.
No entanto, este crescimento mais lento está afetando o
resto da Ásia
— afirma Olivier Blanchard.
Essa correlação de forças entre os efeitos de um mesmo desdobramento
Essa correlação de forças entre os efeitos de um mesmo desdobramento
relevante para a economia internacional é a tônica de 2015,
com as
influências negativas se sobrepondo neste início de ano,
explica
Blanchard. Por isso, as projeções para o crescimento este ano
e em 2016
foram reduzidas em 0,3 ponto percentual, para 3,5% e 3,7%,
respectivamente.
— A economia mundial enfrenta um forte e complexo choque de correntes.
— A economia mundial enfrenta um forte e complexo choque de correntes.
Por um lado, economias de porte estão se beneficiando da queda do preço
do petróleo.
Por outro, em muitas partes do mundo as perspectivas de
longo
prazo afetam a demanda adversamente, resultando em grande ressaca —
disse Blanchard.
O conjunto dos países ricos exemplifica bem estes sinais trocados.
O conjunto dos países ricos exemplifica bem estes sinais trocados.
Enquanto os EUA avançam mais rapidamente do que projetado anteriormente,
a zona do euro permanece patinando, necessitando de estímulos
adicionais,
ameaçada por conflitos políticos e arriscando uma deflação.
E
o Japão, diz o economista-chefe do FMI, “foi uma das principais
decepções de 2014”,
entrando em recessão no fim do ano,
após a
repercussão inicial positiva da chamada Abenomics.
PETRÓLEO BARATO E DÓLAR FORTE SÃO AMEAÇAS
Olhando adiante, há vários outros riscos no horizonte global.
PETRÓLEO BARATO E DÓLAR FORTE SÃO AMEAÇAS
Olhando adiante, há vários outros riscos no horizonte global.
Além das
direções opostas entre os países e as regiões,
o comportamento do preço
do petróleo representa um desafio.
A cotação do barril recuou, em
dólares, 55% desde setembro,
de cerca de US$ 100 para menos de US$ 50.
Para países importadores, especialmente os avançados, a mudança
libera
renda de governos e consumidores.
No entanto, afeta investimentos no
setor de energia —
como o shale gas/oil (gás/óleo não convencional) nos
EUA
e o pré-sal no Brasil — e constrange receitas de países
exportadores.
Os fatores negativos se sobrepõem.
Ainda, a apreciação global do dólar e a depreciação do iene,
Ainda, a apreciação global do dólar e a depreciação do iene,
do euro e
de moedas de emergentes, como o real, vão afetar
termos de troca no
comércio e níveis de endividamento.
Ao aumentar o apetite americano por
produtos, porém,
pode animar economias parceiras dos EUA, como Japão e
as europeias.
Completa o balanço de riscos o aperto das condições financeiras internacionais.
Completa o balanço de riscos o aperto das condições financeiras internacionais.
Os juros estão em alta em boa parte do mundo —
encarecendo investimentos e consumo —
e cresceram os riscos de
turbulências.
Prêmios de risco (custo de captações e financiamentos)
já
começaram a subir, antecipando elevação da taxa básica dos EUA
a partir
da virada do semestre, nova política monetária
expansionista na zona do
euro e os desequilíbrios internos das nações,
notadamente emergentes
como o Brasil.
O FMI recomenda à comunidade internacional força total
O FMI recomenda à comunidade internacional força total
na adoção de
medidas que elevem crescimento potencial dos países,
como investimentos
em infraestrutura, reformas estruturais (tributária, trabalhista,
previdenciária etc) e simplificação regulatória.
"Na maioria das economias, elevar o crescimento potencial é uma política prioritária.
"Na maioria das economias, elevar o crescimento potencial é uma política prioritária.
Há necessidade urgente de reformas estruturais em várias
economias,
avançadas e emergentes", diz o FMI.
Segundo Olivier Blanchard, no curto prazo a única esperança
Segundo Olivier Blanchard, no curto prazo a única esperança
de um
cenário mais animador para a economia mundial
é que os efeitos positivos
da queda do preço do petróleo
, contrariando a expectativa, se imponham
ao negativos.
— Avaliar os efeitos da queda da cotação do petróleo no atual ambiente é difícil.
— Avaliar os efeitos da queda da cotação do petróleo no atual ambiente é difícil.
Esse recuo pode acabar sendo um empurrão maior do que o que
está implícito
em nossas projeções. Em outras palavras, quando
divulgarmos
as próximas previsões, em abril, nossas projeções (de
janeiro)
poderão ter sido muito pessimistas. É o que muito espero —
disse o economista-chefe do FMI.
Fonte: PBHOJE e oglobo.com
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