Após reeleição de Dilma,
movimentos pedem
independência de São Paulo
Eleitores rejeitam o título de brasileiros e defendem criação de um novo país nas redes sociais: 'República de São Paulo'
São Paulo - O resultado do segundo turno das eleições dominouas redes sociais com novos ataques a nordestinos,
mas também deu força a movimentos separatistas,
que rejeitam a reeleição de Dilma Rousseff (PT)
e lutam por uma nova divisão geográfica do Brasil.
O mais forte discurso foi observado em São Paulo,
onde o deputado eleito Coronel Telhada (PSDB)
declarou apoio ao processo de independência do Sul e Sudeste,
exceto Minas Gerais e Rio de Janeiro, que tiveram maioria de votos ao PT.
“Devemos nos submeter a esse governo escolhido pelo Norte e Nordeste?
Eles que paguem o preço sozinhos”, disse o político em seu perfil do Facebook.
ostagem do deputado eleito Coronel Telhada (PSDB)
que gerou polêmica Foto: Reprodução Facebook
Ao iG, o deputado faz um recuo em seu
discurso e cita um “mal-entendido”
entre os seguidores, dizendo agora
que não quer separar as regiões brasileiras,
mas dar autonomia política
aos Estados do Brasil,
possibilitando que eles criem suas próprias leis,
num sistema federativo similar ao dos Estados Unidos.
“Foi um mal-entendido.Não era para ter uma repercussão tão negativa,
apenas defendi a autonomia estadual.
Sou totalmente contra a separação física e geográfica [de São Paulo].
Demoramos tantos anos para conseguir montar uma democracia,
um Brasil unido, que separação não é a resposta”,
justifica Telhada, sobre a fala que foi compartilhada 15 mil vezes na rede social.
Na manhã desta terça-feira, o post já não era encontrado no perfil do coronel,
“possivelmente foi apagado pelo número
de reclamações que o Facebook recebeu”,
sugere.
“Precisamos tomar muito cuidado com o que a gente escreve.
Às vezes, a gente escreve uma besteira”.
A repercussão da fala de Telhada foi instantânea.
Entre palavras de Apoio e acusações de racismo contra o deputado,
seguidores divulgavam a existência da página
Movimento São Paulo Independente (MSPI),
que apoia a fundação de um novo país, a 'República de São Paulo'.
'Não somos brasileiros, somos paulistas'
A eleição presidencial ficou marcada por uma campanha dura,
além de protagonizar a disputa mais acirrada da história
e ser responsável pela divisão do país.
Os movimentos que defendem uma nova definição do Brasil
passaram ainda a rejeitar a nacionalidade brasileira.
“Não seríamos mais chamados de brasileiros, pois esse rótulo
está desgastado e vergonhoso.
É motivo de aversão no exterior.
O nosso gentílico seria paulista”,
defende um seguidor da página do MSPI.
Para Alessandro Chiarottino,
vice-presidente do movimento MSPI,
que começou nonos anos 1980, as eleições 2014 mostraram um Brasil
dividido em dois pelos eleitores de Aécio Neves (PSDB) e de Dilma Rousseff
— “um de São Paulo para baixo e outro representado principalmente pelo Nordeste”.
O líder do grupo, que também atua como advogado
e professor de diretor constitucional, explica que a nova divisão geográfica
é “importante e natural” no momento em que o resultado do pleito é questionado.
“Como o meu Estado vota de uma forma
tão diferente das outras partes do país?
Talvez temos valores
diferentes, uma visão diferente de como posso crescer na vida”,
indaga
Chiarottino, ressaltando que o Brasil foi dividido por “termos sociais”,
principalmente pela região que mais se beneficia pelo programa social
Bolsa Família.
Em poucas horas, após o final da apuração das urnas,
a
página MSPI saltou de 8 mil para 20 mil seguidores.
E os três
administradores estão confiantes de que o caso “não se trata de fogo de
palha”.
Inspirado pela revolução constitucionalista de
1932e por movimentos separatistas europeus, como Liga do Norte (Itália)
e Identitário Catalão (Espanha), o grupo espera colocar a separação de São Paulo
em debate na população. O advogado explica as motivações do movimento:
“São Paulo contribui com R$ 220 bilhões por ano para a União
e recebe de volta menos de 10%.
Além disso,
sofremos com uma sub-representação política.
Deveríamos ter o dobro dos parlamentares no Congresso Nacional”.
Tratando o Brasil como uma “república indivisível”,
a Constituição de 1988 proíbe qualquer separação do país
e configura a sua tentativa como crime contra a segurança nacional,
com pena prevista de 4 a 12 anos de prisão. Por isso, a estratégia do MSPI
é difundir o pensamento na maioria da população de São Paulo,
numa tentativa de alterar lei máxima brasileira.
“A Constituição reconhece a soberania popular.
E ela não é uma pedra, como as tábuas da lei de Moisés.
Nós não podemos permitir a continuidade da exploração
objetiva do estado de São Paulo que é vergonhosa”, conclui.
Muro: Brasil x Nova Cuba
Se de um lado uns clamam pela
independência do próprio estado,
outros defendem uma construção de um
muro.
Um caso que chamou a atenção no Rio Grande do Norte
foi
protagonizado por uma vereadora,
que sugeriu uma divisão entre Brasil e
Nova Cuba.
Eleika Bezerra (PSDC) postou uma imagem com os Estados das
regiões Norte e Nordeste,
além do Rio de Janeiro e Espírito Santo,
compondo a Nova Cuba.
As outras regiões seriam o Brasil,
com exceção de
Minas Gerais, que seria implodida
para a construção de um lago.
A
postagem foi apagada momentos depois.
Além da nova configuração geográfica,
eleitores criaram inúmeros eventos no Facebook
propondo manifestações
no próximo final de semana
pelo impeachment de Dilma.
Uma das
organizações mais numerosas, com 26 mil membros,
diz organizar protestos
em ao menos cinco estados.
Em São Paulo, o grupo promete se reunir às
14 horas,
em frente ao MASP, neste sábado.
Reportagem de Carolina Garcia do iG
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