A CURA GAY NÃO EXISTE
CASO ALGUÉM ESTEJA
ACHANDO QUE PODE CURAR UM GAY
VEJA AQUI
O que a psicanálise pode dizer
sobre as "Terapias de conversão"
Por
Leandro Salebian
em
19/06/2015
às
10h24
Nos tempos obscuros que vivemos aqui no Brasil
não raro volta ao debate público a questão da chamada cura gay,
direitos a tratamento de gays ou ex-gays e coisas do tipo.
De início é importante que se exponha o que são essas tais "terapias":
antigamente elas pretendiam ser uma terapêutica
que tentaria mudar a orientação sexual de uma pessoa.
Foram todas fracassadas,
mas não sem antes levar muitas pessoas a quadros
patológicos ou medidas desesperadas (depressão e suicídio dentre outros).
Hoje em dia, como melhor estratégia que os espertalhões
desenvolveram a partir do fracasso da primeira, as novas "terapias"
se propõe a suprimir a expressão exterior afetiva e sexual
por pessoas do mesmo sexo
(como se sexo biológico, orientação sexual e gênero fossem uma coisa só)
e que a pessoa conseguisse, através de estratégias desenvolvidas
na "terapia", manter relações heterossexuais convencionais
, ainda que internamente seus desejos não se alterassem,
mas que fossem suportados em silêncio.
O "refinamento" teórico destes "terapeutas"
está em afirmar que qualquer sexualidade que não
a padrão seria uma doença incurável, só que crônica
e com a ajuda deles seria passível de ser "tratável"
(leia-se: estratégias para não concretizar nenhum
ato sexual fora do padrão e tampouco expressar os desejos socialmente).
Aqui cabe um retorno ao Freud de até mesmo antes
da fundação da psicanálise:
lá pelo começo da década de 1890 Freud já estava começando
a perceber que se ele quisesse minimamente entender
e fazer intervenções terapêuticas ele necessitaria primeiro escutar,
fazendo um esforço imenso para escutar com
o mínimo possível de ideias pré-concebidas para só então,
a partir do que escutou, fazer uma intervenção.
Ele rapidamente descobriu que juízos de moral não ajudavam em nada,
ao contrário, apenas faziam as pessoas que ele atendia se calarem.
E então ele funda o que seria um dos pilares fundamentais da psicanálise:
da parte do paciente era pedido que falasse livremente,
sem censura, ou seja, a chamada associação livre.
É claro que isso exigia uma contrapartida por parte do analista:
não haveria um julgamento moral do paciente e o sigilo ético seria mantido.
Com isto, Freud buscava fazer duas coisas:
uma era entender cada paciente singularmente,
indo atrás dos pontos únicos daquela pessoa
(ideias e emoções específicas, sua história).
Outro era elaborar teorias que dessem conta
de como as pessoas funcionam, de quais princípios gerais
regem a vida psíquica humana.
E para fazer essas duas coisas era imprescindível
que a pessoa se sentisse a vontade para falar livremente.
Foi justamente por sustentar radicalmente a associação livre que ele pôde elaborar cada vez mais a psicanálise e abrir questões fecundas que até hoje são debatidas e desenvolvidas.
Ou seja, era fundamental que o psicanalista não tentasse de modo algum "enquadrar" o analisando em um molde pré-concebido.
Aqui já é possível perceber a diferença radical entre uma postura freudiana e a postura destes tais "terapeutas".
Enquanto Freud pedia a voz dos analisandos e buscava trazer os conflitos para que a própria pessoa pudesse pensar sobre eles e elaborar, com seu analista ou entre as sessões, respostas para sua própria vida, estes "terapeutas" pedem o silêncio, ditam o que pode e o que não pode, como tem que ser e como é proibido ser.
Coisa curiosa a que chegou Freud em anos posteriores:
ele afirma expressamente que a psicanálise não era uma Weltanschauung,
ou seja, que não era um saber que ditaria uma visão de mundo,
que não cabia à psicanálise ditar como as pessoas deveriam ser ou se comportar.
A psicanálise estaria a serviço de pensar como o ser humano funciona,
seus mecanismos, sua lógica, sua constituição, expor seus conflitos,
mas jamais legislar como cada pessoa deve viver sua vida
, ditar uma moral (social ou íntima) ou fazer juízos de valor.
A angústia de não se ter respostas prontas para viver permite
às pessoas criarem suas próprias respostas: angustiante por um lado
, libertador por outro.
Já pelo lado dos atuais "terapeutas" homofóbicos fica a questão:
o que os tais "terapeutas" podem aprender
sobre os seres humanos silenciando-os?
No máximo podem desenvolver técnicas mais elaboradas
sobre como "moldar" pessoas ou silenciá-las ainda mais,
custando o sofrimento que custar.
Leandro Salebian é psicólogo (CRP 06/99001)
graduado pelo Instituto de Psicologia da USP.
Já trabalhou na área da saúde mental em um CAPS Adulto
e hoje se dedica exclusivamente ao trabalho em consultório particular.
Segue sua formação estudando autores da Psicanálise
e tem um olhar crítico e atento às questões de gênero e diversidade sexual.
Na primeira semana do mês publica uma coluna
e na terceira responde um internauta.
Para enviar uma pergunta ou sugerir
temas escreva para: leandrosresponde@gmail.com .
Acesse também seu site ( www.leandrosalebian.com.br )
não raro volta ao debate público a questão da chamada cura gay,
direitos a tratamento de gays ou ex-gays e coisas do tipo.
De início é importante que se exponha o que são essas tais "terapias":
antigamente elas pretendiam ser uma terapêutica
que tentaria mudar a orientação sexual de uma pessoa.
Foram todas fracassadas,
mas não sem antes levar muitas pessoas a quadros
patológicos ou medidas desesperadas (depressão e suicídio dentre outros).
Hoje em dia, como melhor estratégia que os espertalhões
desenvolveram a partir do fracasso da primeira, as novas "terapias"
se propõe a suprimir a expressão exterior afetiva e sexual
por pessoas do mesmo sexo
(como se sexo biológico, orientação sexual e gênero fossem uma coisa só)
e que a pessoa conseguisse, através de estratégias desenvolvidas
na "terapia", manter relações heterossexuais convencionais
, ainda que internamente seus desejos não se alterassem,
mas que fossem suportados em silêncio.
O "refinamento" teórico destes "terapeutas"
está em afirmar que qualquer sexualidade que não
a padrão seria uma doença incurável, só que crônica
e com a ajuda deles seria passível de ser "tratável"
(leia-se: estratégias para não concretizar nenhum
ato sexual fora do padrão e tampouco expressar os desejos socialmente).
Aqui cabe um retorno ao Freud de até mesmo antes
da fundação da psicanálise:
lá pelo começo da década de 1890 Freud já estava começando
a perceber que se ele quisesse minimamente entender
e fazer intervenções terapêuticas ele necessitaria primeiro escutar,
fazendo um esforço imenso para escutar com
o mínimo possível de ideias pré-concebidas para só então,
a partir do que escutou, fazer uma intervenção.
Ele rapidamente descobriu que juízos de moral não ajudavam em nada,
ao contrário, apenas faziam as pessoas que ele atendia se calarem.
E então ele funda o que seria um dos pilares fundamentais da psicanálise:
da parte do paciente era pedido que falasse livremente,
sem censura, ou seja, a chamada associação livre.
É claro que isso exigia uma contrapartida por parte do analista:
não haveria um julgamento moral do paciente e o sigilo ético seria mantido.
Com isto, Freud buscava fazer duas coisas:
uma era entender cada paciente singularmente,
indo atrás dos pontos únicos daquela pessoa
(ideias e emoções específicas, sua história).
Outro era elaborar teorias que dessem conta
de como as pessoas funcionam, de quais princípios gerais
regem a vida psíquica humana.
E para fazer essas duas coisas era imprescindível
que a pessoa se sentisse a vontade para falar livremente.
Foi justamente por sustentar radicalmente a associação livre que ele pôde elaborar cada vez mais a psicanálise e abrir questões fecundas que até hoje são debatidas e desenvolvidas.
Ou seja, era fundamental que o psicanalista não tentasse de modo algum "enquadrar" o analisando em um molde pré-concebido.
Aqui já é possível perceber a diferença radical entre uma postura freudiana e a postura destes tais "terapeutas".
Enquanto Freud pedia a voz dos analisandos e buscava trazer os conflitos para que a própria pessoa pudesse pensar sobre eles e elaborar, com seu analista ou entre as sessões, respostas para sua própria vida, estes "terapeutas" pedem o silêncio, ditam o que pode e o que não pode, como tem que ser e como é proibido ser.
Coisa curiosa a que chegou Freud em anos posteriores:
ele afirma expressamente que a psicanálise não era uma Weltanschauung,
ou seja, que não era um saber que ditaria uma visão de mundo,
que não cabia à psicanálise ditar como as pessoas deveriam ser ou se comportar.
A psicanálise estaria a serviço de pensar como o ser humano funciona,
seus mecanismos, sua lógica, sua constituição, expor seus conflitos,
mas jamais legislar como cada pessoa deve viver sua vida
, ditar uma moral (social ou íntima) ou fazer juízos de valor.
A angústia de não se ter respostas prontas para viver permite
às pessoas criarem suas próprias respostas: angustiante por um lado
, libertador por outro.
Já pelo lado dos atuais "terapeutas" homofóbicos fica a questão:
o que os tais "terapeutas" podem aprender
sobre os seres humanos silenciando-os?
No máximo podem desenvolver técnicas mais elaboradas
sobre como "moldar" pessoas ou silenciá-las ainda mais,
custando o sofrimento que custar.
Leandro Salebian é psicólogo (CRP 06/99001)
graduado pelo Instituto de Psicologia da USP.
Já trabalhou na área da saúde mental em um CAPS Adulto
e hoje se dedica exclusivamente ao trabalho em consultório particular.
Segue sua formação estudando autores da Psicanálise
e tem um olhar crítico e atento às questões de gênero e diversidade sexual.
Na primeira semana do mês publica uma coluna
e na terceira responde um internauta.
Para enviar uma pergunta ou sugerir
temas escreva para: leandrosresponde@gmail.com .
Acesse também seu site ( www.leandrosalebian.com.br )
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