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sexta-feira, 19 de junho de 2015

A CURA GAY NÃO EXISTE HOMOFÓBICOS

 A CURA GAY NÃO EXISTE

CASO  ALGUÉM  ESTEJA

ACHANDO QUE PODE CURAR UM GAY 

VEJA AQUI

O que a psicanálise pode dizer

 sobre as "Terapias de conversão"

Por Leandro Salebian em 19/06/2015 às 10h24
O que a psicanálise pode dizer sobre as "Terapias de conversão"
Nos tempos obscuros que vivemos aqui no Brasil
 não raro volta ao debate público a questão da chamada cura gay,
 direitos a tratamento de gays ou ex-gays e coisas do tipo.
De início é importante que se exponha o que são essas tais "terapias":
 antigamente elas pretendiam ser uma terapêutica
 que tentaria mudar a orientação sexual de uma pessoa.
Foram todas fracassadas, 
mas não sem antes levar muitas pessoas a quadros 
patológicos ou medidas desesperadas (depressão e suicídio dentre outros).

Hoje em dia, como melhor estratégia que os espertalhões
desenvolveram a partir do fracasso da primeira, as novas "terapias"
 se propõe a suprimir a expressão exterior afetiva e sexual
por pessoas do mesmo sexo
 (como se sexo biológico, orientação sexual e gênero fossem uma coisa só)
 e que a pessoa conseguisse, através de estratégias desenvolvidas
na "terapia", manter relações heterossexuais convencionais
, ainda que internamente seus desejos não se alterassem,
mas que fossem suportados em silêncio.

O "refinamento" teórico destes "terapeutas"
 está em afirmar que qualquer sexualidade que não
a padrão seria uma doença incurável, só que crônica
 e com a ajuda deles seria passível de ser "tratável"
 (leia-se: estratégias para não concretizar nenhum
ato sexual fora do padrão e tampouco expressar os desejos socialmente).

Aqui cabe um retorno ao Freud de até mesmo antes
 da fundação da psicanálise:
lá pelo começo da década de 1890 Freud já estava começando
 a perceber que se ele quisesse minimamente entender
 e fazer intervenções terapêuticas ele necessitaria primeiro escutar,
 fazendo um esforço imenso para escutar com
 o mínimo possível de ideias pré-concebidas para só então,
 a partir do que escutou, fazer uma intervenção.

 Ele rapidamente descobriu que juízos de moral não ajudavam em nada,
 ao contrário, apenas faziam as pessoas que ele atendia se calarem.
 E então ele funda o que seria um dos pilares fundamentais da psicanálise:
 da parte do paciente era pedido que falasse livremente,
sem censura, ou seja, a chamada associação livre.
 É claro que isso exigia uma contrapartida por parte do analista:
 não haveria um julgamento moral do paciente e o sigilo ético seria mantido.
Com isto, Freud buscava fazer duas coisas:
uma era entender cada paciente singularmente,
indo atrás dos pontos únicos daquela pessoa
 (ideias e emoções específicas, sua história).
Outro era elaborar teorias que dessem conta
 de como as pessoas funcionam, de quais princípios gerais
regem a vida psíquica humana.
 E para fazer essas duas coisas era imprescindível
 que a pessoa se sentisse a vontade para falar livremente.

Foi justamente por sustentar radicalmente a associação livre que ele pôde elaborar cada vez mais a psicanálise e abrir questões fecundas que até hoje são debatidas e desenvolvidas.
Ou seja, era fundamental que o psicanalista não tentasse de modo algum "enquadrar" o analisando em um molde pré-concebido.
 Aqui já é possível perceber a diferença radical entre uma postura freudiana e a postura destes tais "terapeutas".


Enquanto Freud pedia a voz dos analisandos e buscava trazer os conflitos para que a própria pessoa pudesse pensar sobre eles e elaborar, com seu analista ou entre as sessões, respostas para sua própria vida, estes "terapeutas" pedem o silêncio, ditam o que pode e o que não pode, como tem que ser e como é proibido ser.
Coisa curiosa a que chegou Freud em anos posteriores:
ele afirma expressamente que a psicanálise não era uma Weltanschauung,
 ou seja, que não era um saber que ditaria uma visão de mundo,
que não cabia à psicanálise ditar como as pessoas deveriam ser ou se comportar.
 A psicanálise estaria a serviço de pensar como o ser humano funciona,
 seus mecanismos, sua lógica, sua constituição, expor seus conflitos,
 mas jamais legislar como cada pessoa deve viver sua vida
, ditar uma moral (social ou íntima) ou fazer juízos de valor.
 A angústia de não se ter respostas prontas para viver permite
 às pessoas criarem suas próprias respostas: angustiante por um lado
, libertador por outro.
Já pelo lado dos atuais "terapeutas" homofóbicos fica a questão:
 o que os tais "terapeutas" podem aprender
sobre os seres humanos silenciando-os?
No máximo podem desenvolver técnicas mais elaboradas
 sobre como "moldar" pessoas ou silenciá-las ainda mais,
 custando o sofrimento que custar.
Leandro Salebian é psicólogo (CRP 06/99001)
 graduado pelo Instituto de Psicologia da USP. 
Já trabalhou na área da saúde mental em um CAPS Adulto
 e hoje se dedica exclusivamente ao trabalho em consultório particular.
 Segue sua formação estudando autores da Psicanálise
 e tem um olhar crítico e atento às questões de gênero e diversidade sexual.
 Na primeira semana do mês publica uma coluna 
e na terceira responde um internauta.
 Para enviar uma pergunta ou sugerir
 temas escreva para: leandrosresponde@gmail.com
Acesse também seu site ( www.leandrosalebian.com.br )
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