Negociações com UE
avançam menos do que Dilma esperava
Luiza Bandeira e Marcia Bizzotto
De Bruxelas para a BBC Brasil
As
negociações para um tratado de livre comércio entre Mercosul
e União
Europeia avançaram menos do que o governo brasileiro esperava.
Ao
chegar a Bruxelas na manhã de quarta-feira para participarda cúpula Celac-União Europeia, a presidente Dilma Rousseff
esperava marcar para 18 de julho a troca de ofertas entre os dois blocos.
Para que o acordo seja fechado, é preciso que cada
um diga quais produtos poderiam ser incluídos
nas negociações e em quais condições.
Leia mais: Dilma busca novos negócios e saídas para crise em Bruxelas
Porém, Dilma vai embora de Bruxelas nesta quinta-feira
sem data marcada para que a troca de propostas ocorra,
mas negou que deixe a cúpula com um sentimento de frustração.
"Não saio frustrada, isso não significa que não terá data.
Nós fazemos a proposta e eles têm de olhar as condições
deles e fazer a mesma proposta", afirmou a presidente.
O ministro brasileiro de Relações Exteriores, Mauro Vieira,
disse que o Mercosul e a União Europeia decidiram
trocar ofertas tarifárias "até o último trimestre do ano".
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onda porque o mar não serenou, disse Dilma
Argentina
Dilma negou que o Brasil tenha perdido a paciência com a Argentina– que resiste à abertura para proteger sua indústria.
"Essa é visivelmente uma conversa, eu diria, que acha que
a culpa sempre é dos latino-americanos. Não é trivial em lugar nenhum
fazer um acordo comercial", afirmou, lembrando que a União Europeia
é composta de diversos países, que precisam fazer suas discussões internas.
Leia mais: Cautela argentina em acordo com UE divide governo brasileiro
Mesmo assim, diplomatas ainda dizem que as eleições argentinas
foram o principal motivo para que as negociações fossem adiadas.
O pleito ocorre em outubro e a proteção da indústria nacional
é uma bandeira da presidente Cristina Kirchner, que por isso,
resiste ao acordo com a UE.
A ideia é esperar para que a negociação seja fechada com o novo presidente.
A discussão dividiu até mesmo o governo brasileiro:
enquanto alguns diplomatas e integrantes do governo
defendiam que se aguardassem as eleições argentinas,
outros queriam que o acordo saísse o mais rápido possível.
Europa
A representante da União Europeia afirmou,porém, que nenhum dos blocos está pronto para o acordo.
"Ninguém está pronto ainda, por isso decidimos que esperaremos
até o último trimestre", afirmou a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström.
Segundo ela, o bloco europeu quer assegurar
que o "nível de ambição" do Mercosul esteja à altura de suas expectativas.
O acordo de livre comércio começou a ser discutido em 1999.
As negociações estão paradas desde 2010.
Para a União Europeia, a agricultura sempre foi um
tema sensível, que o bloco tenta proteger.
Os países do Mercosul insistem que seja incluído no acordo
a revisão da política de subsídios concedidos aos produtores europeus,
os quais dificultam a venda, na Europa, de produtos do bloco sul-americano.
Para os países do Mercosul, o problema era a entrada de produtos
industrializados europeus segundo as condições exigidas
pelos representantes da UE.
O Brasil tenta, no momento, destravar as negociações tanto
para contornar a crise, que obriga o país a procurar novos mercados,
quanto pela estagnação do crescimento das trocas agrícolas
e pelo enfraquecimento da indústria nacional.
Baseado em um estudo publicado pela FGV,
o governo brasileiro estima que, com o acordo,
as exportações brasileiras para a Europa cresceriam 20%.
Declaração
A cúpula UE-Celac terminou nesta quinta-feira coma publicação da "Declaração de Bruxelas", na qual os líderes europeus,
latino-americanos e caribenhos expressam apoio ao processo
de paz na Colômbia e pedem "novos passos que levem ao rápido fim do embargo a Cuba".
O documento de 50 páginas não condena explicitamente
as sanções dos Estados Unidos contra a Venezuela,
como queriam os países latino-americanos, mas faz alusão ao caso.
"Reafirmamos nossa decisão de apoiar a igualdade
soberana de todos os Estados, respeitar sua integridade
territorial e independência política, e nosso compromisso de evitar,
nas relações internacionais, o uso de ameaças e de força", diz o texto.
A UE e a Celac também decidiram deixar para traz
seu antigo modelo de cooperação ao desenvolvimento
e dar mais atenção à cooperação científica,
tecnológica e em educação superior.
A próxima cúpula birregional será realizada em 2017,
na América Latina.
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